quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Mas eu me mordo de ciúme!

O que é ciúme, afinal? Pergunta difícil de responder a quem o sente! Assim como Luíza, muitas outras mulheres (homens também) se perdem nas próprias inseguranças.

Luiza sente ciúme do marido ao pensar na exuberância da secretária que ele contratou.
 
-          Se ele me ama de verdade, deveria despedi-la e contratar uma mais “modesta”!
-          Quer dizer então que, por amor, o seu marido teria de trabalhar com uma funcionária feia? Resolvi cutucar...

Confusa e tentando justificar sua postura, Luiza tenta encontrar argumentos mas, não consegue.

-          Para que ele quer uma ajudante assim? O que importa não é a competência?
-          Justamente! Respondi, com certa ironia. Ela não é boa profissional?

Nesse ponto Luiza sentiu-se pressionada a admitir sua insegurança baseada no fato de a moça possuir certos atributos com os quais  julga não poder contar. Seu ciúme desqualificava a moça que, provavelmente, só quer trabalhar e ganhar seu honesto dinheirinho.

- Já sei o que deveremos fazer para que você se sinta segura no relacionamento! Disse-lhe causando expectativas..

- O que? Fala logo!

- Teremos de “enfeiar” todas as outras mulheres ou fazer com que seu marido não seja capaz de olhar para nenhuma. Cegá-lo, talvez!  bricadeiras assim, com certa infantiidade, demonstram o quão tolas podem ser nossas inseguranças!

Não são raras as gargalhadas em terapia e ambos desfrutamos daquele momento bem humorado que, por si só, demonstrava-se terapêutico. Rir de si e das próprias dificuldades é a melhor demonstração de que o paciente percebeu a inocência de suas inseguranças. Naquele momento Luiza estava admitindo que a beleza de outras mulheres não deve ser uma ameaça ao seu relacionamento.

-          Eu acredito que sempre haverá mulheres atraentes no caminho dos homens casados mas, em bons casamentos, suas esposas são valiosas e insubstituíveis. E tem mais, a beleza é uma virtude que não vai acompanhá-la por toda a vida. Se o amor acabar junto com a rigidez da pele, é porque não se tratava de um amor tão bom assim. A relação existe enquanto existirem valores duradouros na personalidade de um ou outro cônjuge.

-          Como assim? 

Ser atraente não significa ser bonita. Seu marido talvez seja atraído pela sua inteligência, ou pelo seu humor, pela sua companhia, quem sabe? Quando as virtudes que ele admira em você desaparecerem haverá motivos para insegurança. Mas enquanto ele vive da sua companhia, admirando seus valores e sua personalidade, aqui está você preocupada com a prótese de silicone da secretária dele!

Gargalhadas!

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Ele me trocou por outra... Isso não é justo

Conheço várias definições de amor e, todas elas, de alguma forma, insinuam que amar é desejar o bem do outro sem nenhum tipo de compensação em troca mas, na prática, os amantes talvez não estejam preparados para doar sem receber. A queixa de Márcia, além de comum, ilustra esta tese:
- Eu abri mão de muita coisa por esse casamento! Larguei a faculdade de veterinária, deixei minha juventude ir embora para me entregar a ele!

Às vezes o óbvio não é terapêutico, ou seja, dizer-lhe que fez assim porque quis, embora verdadeiro, não lhe traria benefício algum naquele momento. Perguntei-lhe, então, com certo requinte de ironia:

- E ele? Também não abriu mão de muitas coisas por você?

 - Não! Eu é que ralei em casa para que ele progredisse profissionalmente e, agora, me troca por uma "qualquerzinha’. Ela não fará por ele tudo que eu fiz.
  Márcia em seu relato demonstra raiva que, de acordo com Aristóteles, é uma tristeza acompanhada pelo desejo de vingança. Claro, está triste, e obviamente sentiria prazer em vê-lo sofrer nas mãos da outra, na medida que, não faz por ele, tudo que ela fazia (percebamos certo grau de auto estima fazendo–a perceber-se melhor mulher do que a concorrente).

-
Eu fiz tudo por nosso relacionamento! Não é justo que agora me deixe a ver navios !


 - Márcia, o que vou te dizer parece insensato mas se avaliar bem, perceberá que tenho razão:
- O que?
 
- A vida não é justa, os sentimentos não são justos e amor também não o é!

Márcia demonstra dúvida e discórdia em relação ao que ouviu e, portanto, era justo que lhe explicasse porque penso dessa forma:
A justiça é a virtude da igualdade, do exato. O justo é aquilo que não sobra e não falta. Não é possível que alguém lhe retribua o amor na mesma medida que o recebe. Provavelmente sobrará de um lado ou de outro.

Não se mede o amor pelo esforço que se faz pela pessoa amada, mas não há nenhum mal na busca da equidade. Talvez seja essa busca que mantenha viva a chama desse sentimento tão intrigante. Costumo dizer aos meus pacientes que o amor não existe por si, mas por uma reunião de vários outros sentimentos. Entendo que o principal desses ingredientes é a gratidão.
Na medida que recebemos o bem do outro, sentimos um desejo em retribuir. Se a retribuição for também prazerosa, há bons indícios de amor mas se a retribuição trouxer apenas a sensação de não mais dever nada, essa gratidão não passa de um acerto de contas. Isso é Justiça mas não é amor.

Márcia terá de entender que amar é uma troca de prazeres e cuidados que levam duas pessoas a desejarem-se ainda mais. Dessa troca, não se pode esperar troco e, portanto, não
se pode esperar que um relacionamento continue apenas por gratidão.

Realmente não seria bom que o casamento de Márcia continuasse apenas em razão da gratidão por tudo que ela fez. Seria como tomar uma gota de veneno todos os dias. Essa dose mínima de desprazer não matará mas ao longo de anos bebendo desse mal, a vida seria intolerável.

O amor é algo demais complexo para que eu explique ou, para que eu entenda mas, são essas possíveis formas de entendê-lo que acredito serem úteis e positivas..

Deve–se amar pelo prazer de oferecer ao outro o bem mas, amamos pelo nosso próprio.

Encerro com esse trecho de Caetano Veloso: "O amor é cego, Ray Charles é cego, Stevie Wonder é cego e o albino Hermeto não enxerga muito bem"

Obrigado pela companhia de quem me lê.
Até breve

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Ele me trocou por outra...Parte II - Saber perder

O artigo anterior tratava da auto estima que, sem dúvidas, é uma das coisas que se perde quando um relacionamento acaba. Porém, há várias outras.

Em geral, não estamos acostumados a refletir sobre as causas dos sentimentos. Habituamo-nos somente senti-los, como se fossemos escravos das emoções. Isso porque vivemos em uma cultura que separa (equivocadamente)razão de emoção e oferece a esta última, autonomia para dirigir nossas ações. Trata-se do que os gregos denominaram "Pathos" e que foi traduzido por paixão. Essa palavra significa agir estando tomado por um sentimento e dá origem ao termo patologia. Esse conceito, de tão enraizado, faz parecer insensata,a idéia de governar os sentimentos mas, não é..

Quando o relacionamento acaba, devemos nos perguntar o que, de fato, perdemos com o final da relação. Quando atingimos clareza sobre isso, podemos desenvolver as reflexões necessárias para suprir ou tolerar a perda e, portanto, governar os sentimentos.

Mara, mulher de 40 anos, namorava um diretor da empresa na qual trabalha. Quando o relacionamento (praticamente um casamento) acabou, suas amigas tentavam-lhe em vão consolar mas, não havia argumentos ou bons conselhos que devolvessem-lhe a serenidade. O motivo da dor de perder era imperceptível a elas.
- Foram anos de relação! Já estava acostumada a passar os finais de semana com ele. Os filhos dele são como os que não tive. Sinto muito as falta dele. Estou enlouquecendo.

- Você mantém contato com ele no dia a dia da empresa?
- Muito pouco. Percebo que ele evita falar comigo ou mesmo passar perto de mim.
- E aquela promoção que você pleiteava?
- Nem lembrava mais disso! Eu fui promovida há duas semanas mas isso não importa mais! Pelo contrário, na verdade, sinto indiferença dos colegas quanto a isso. Não comentam, não parabenizam e, para falar a verdade, sinto-me até mesmo desvalorizada!

Mara perdeu várias coisas com o final do namoro, algumas mais ou menos claras: a convivência familiar com o ex e seus filhos, por exemplo. Mas, o que mais doía era a perda social e a posição de "mulher do chefe", perante os colegas. Muitos deles a excluíram das rodinhas de conversas e do happy hour na sexta feira.

Para ser sincero, não me senti à vontade para apontar, logo de cara, que em parte, seu sofrimento não vinha de amor frustrado mas, de status perdido. Não é admirável, socialmente, sofrer por questões como essa e, portanto, Mara não admitiria.


Então, a terapia foi conduzida no sentido de refletir sobre o valor das amizades, pois, afinal, quando ela perdeu o relacionamento ficou evidente que, o elo entre Mara e essas pessoas era a posição de "mulher do chefe".


- Não me lembro exatamente qual pensador disse esta frase, mas gosto muito dela: "descobrimos bons amigos quando com eles dividimos um punhado de sal" (acho que foi Cícero).

- Mas lá na empresa tenho a impressão que poucos se propõe a isso.
- Quanto vale o sofrimento por amizades assim? Perguntei, com ar de reflexão e, emendei:

- E você? Preocupa-se com o que eles acham de você? Por qual motivo você ficaria preocupada em receber aplausos de pessoas que você não aplaude? (Isso eu sei: vem de Sêneca). Além do mais, seus bons amigos o serão sempre!

Mara começou a subir no salto, como ela mesma disse e, passou a encarar os colegas com dignidade. Aquela mulher perdeu algo que não era tão óbvio: a posição social. As reflexões em terapia foram positivas mas ela nunca tomou ciência direta da razão de suas dores. Na verdade, ela reconquistou a posição: seu namorado atual é o presidente de uma empresa parceira da que trabalha. Caso a história se repita, o que é uma hipótese razoável, talvez ela esteja mais preparada para elaborar bons pensamentos e governar seus sentimentos.


Outra história...
-Minha vida acabou! Sinto um vazio desde quando terminamos! Disse Bruna.- Eu fico pensando em que momentos ele faz mais falta! Disse-lhe-- Mais à noite, quando chego em casa. Durante o trabalho me distraio e nem penso!- E quando chega em casa...como é?- Fico perdida! Sem saber o que fazer. Fico olhando para as paredes meio confusa.- E quando ele estava? Como era?- Sem graça! A gente discutia muito, eu não suportava! Que raiva!

Bruna perdeu algo que já não possuía: um bom casamento. O fato é que a convivência não era agradável havia muito tempo, mas ao terminar a relação, finalizou-se, também, uma rotina que conduziu a vida daquela mulher por anos . Bruna perdeu a referência. Seria um erro pensar que só nos acostumamos com o que nos faz bem. Essa mulher estava habituada àquela forma de viver e ficou sem chão. Pouco importava o marido e sua atual mulher. O que doía em Bruna eram duas coisas: a noção de tempo perdido e o desgoverno que sua vida tomou.


- Bruna, o que é um bom casamento? Aquele que dura 30 anos com muitos dissabores ou aquele que dura dois ou três com felicidade recíproca e intensa? Perguntei
- Pouco importa! O meu durou cinco anos e foram sem graça!
- Foram cinco anos sem graça mesmo?

Mara reflete por alguns instantes e força-se a responder sinceramente:

- Aconteceram bons momentos sim! Sofro porque eles acabaram.

- Eles não acabaram de uma vez! Foram aos poucos se esvaziando. Tão aos poucos que nos últimos meses já não existiam e, no fundo, você perdeu o que já não possuía. Você está só e não sabe ser feliz assim! Terá de aprender!
- Ser só, e feliz? Ninguém consegue
- Duas pessoas só deveriam se casar quando fossem capazes de viverem sós. É comum ouvir que a princesa quer um príncipe que a complete, mas se ela precisa ser completado é porque algo falta. Bons casamentos só acontecem quando nada falta em ambos !Quando ambos forem completos, se casarão por amor, caso contrário, será por fraqueza, ou por falta de alguma coisa, sei lá! As pessoas se casam por diversos possíveis motivos! De vez em quando um deles é amor!

Bruna entendeu o recado mas isso não é suficiente, é necessário desenvolver o hábito de ser boa companhia para si. Aprender a sair só para tomar um café, ir ao teatro, comer sozinha um bom menu em um bom restaurante (poucas pessoas fazem isso, em geral, quando estão sós, comem qualquer coisa em um balcão de padaria)

Esse conceito pode ser bem representado naquele ditado: ame-te primeiro, só assim será capaz de oferecer-te a outra pessoa e dela desfrutar ou, ainda, "está pronto para o amor aquele que souber degustar um bom pinot noir com a boa companhia de si mesmo". Este acabo de criar

Ele me trocou por outra...Parte III - Isso não é justo!
 

 

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Ele me trocou por outra... Parte I - A auto estima

Este artigo será dividido em algumas partes, nas quais, discutir-se-ão diversos fatores envolvidos no sofrimento de mulheres que perderam seu companheiro para uma concorrente. Comecemos com a auto estima

- Ontem ele chegou e disse que tudo acabou! O namoro, a amizade, o noivado. Eu não podia aceitar um fim assim, sem explicações! Há alguns meses ele estava estranho, meio ausente. Canalha! Ele estava saindo com outra Eu cutuquei até ele confessar!
- São canalhas os homens que, só porque saem com outras, ficam distantes das namoradas e não lhes dá atenção, você não acha?
Esse comentário, aparentemente machista (trata-se de uma técnica de confusão), serviu para romper o raciocínio rancoroso de Mônica e abrir a brecha que eu precisava para começar a ajudá-la.
Quando o problema é relacionamento, geralmente, as mulheres, antes de procurar terapia, passam por diferentes estágios de aconselhamentos com amigas e com diversos gurus da auto-ajuda que, no auge de seu pensamento otimista, tentam fazê-las acreditar que o homem que perderam era um tranqueira, que mereciam alguém melhor, à sua altura! Ainda: que precisam descobrir a mulher poderosa que habita em seu ser e que era sufocada por aquele macho egoísta e ingrato que a abandonou . É a tática de desdenhar o ex-companheiro.

- Minha melhor amiga disse que homem que faz isso não presta?
 - Até ontem ele prestava. O problema não é esse.
Sinceramente, as amigas, com certeza, são afetadas em suas opiniões. Falarão. como se fossem advogadas de defesa da amiga que perdeu seu par e, principalmente, como se elas próprias tivessem passando por isso. Dependendo de suas inseguranças, fornecerão conselhos frágeis e contaminados pelas próprias vivências. Serão, porém, conselhos bastante atrativos pois, elevam a auto estima e desvalorizam o caráter o ex.
O próximo estágio, ainda dentro da estratégia da auto estima, é denegrir a concorrente (e vencedora), principalmente no quesito corpo: dirão que a outra tem celulite, é gorda, etc, sente-se poderosa e torce pelo fracasso do ex com rival. Esse é o momento da raiva que, Aristóteles define como sendo uma tristeza acompanhada do desejo de vingança. Tristeza pela perda, do homem e da auto estima (entre outros fatores que serão discutidos adiante) e a vingança, que se configura na fantasia de que ele vai se dar mal com a outra, que ela é mulher certa (melhor) e ele errou ao trocá-la.
A auto estima é, apenas, um dos fatores que podem estar envolvidos na dor da troca. Basicamente, trata-se da conclusão de que não é boa suficiente para aquele homem e, pior, há alguém que é. Isso dói duplamente!

Reflitam:
Juliana, mulher de meia idade, foi trocada porque seu ex-marido preferiu uma mulher mais jovem, com contornos mais definidos e excitantes.
Antonia perdeu a companhia do marido porque ele deixou de admirar sua postura de esposa caseira, que cuida da família e dos afazeres domésticos. Encontrou uma colega no trabalho que passou a julgar mais produtiva e gostou da idéia.
Claudia, uma bonita balzaquiana, foi trocada por uma mulher sexualmente mais liberal. Seu namorado, aparentemente prefere prazeres sexuais mais intensos a uma companhia mais carinhosa e menos física.

Mulheres como Juliana, Antonia e Claudia foram trocadas por outras porque não atendiam mais às expectativas dos respectivos cônjuges. Mas, isso não as torna mulheres sem valor. Eles é que não souberam mais saborear o que elas tinham de bom a oferecer. Haverá quem saiba e desfrute disso.
Elas perderam seus relacionamentos e sofrer por isso é normal. O que não é saudável é perder a estima por si.

Essas mulheres desenvolveram maturidade para continuarem estimando a si mesmas. Juliana entendeu que envelhecer faz parte saudável da vida e se Sérgio não estava pronto para isso, foi realmente melhor para ela que acabasse ali. Antônia chegou a se sentir-se mínima por achar que a moça que tomou seu lugar seria mais mulher, mais inteligente e produtiva mas, entendeu que trata-se de uma questão de foco: para ela, ser mulher é ser cuidadora de casa, marido e filhos.
- Ele que se dane! Se ele prefere uma mulher de escritório, que vá ser feliz com ela e me deixe em paz!

Claudia até reconheceu que seu comportamento sexual inibido não era positivo nem mesmo a ela, mas concluiu que isso não deve ser um fator predominante num relacionamento, a ponto de finalizá-lo.
O desafio para essas mulheres foi descobrir que eles não as queriam mais porém, elas não eram descartáveis. Muito pelo contrário!

Continua... talvez aos poucos, a cada artigo, esse tema possa ser melhor compreendido

Em breve: Ele me trocou por outra... Parte II – Saber perder

Grato aos que acompanham aqui!
 
 
 
 
 

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

O que é psicoterapia?

Longe de mim definir, mas a primeira consulta é sempre muito difícil para o paciente e não sei se haveria como ser diferente!
Mesmo que a terapia não seja novidade, existem inseguranças, dúvidas e, de certa forma, desejo de não estar ali.

- De que forma posso te ajudar? Quase sempre é assim que começo uma entrevista inicial.
Algumas pessoas são mais objetivas, outras difusas, algumas preferem contar parte de sua infância pois, acreditam que, desta forma, entenderei melhor suas dificuldades no presente.
De fato, estão confusas em relação à terapia. Estão sentadas a minha frente com um misto de esperança e descrença, afinal, têm dúvidas quanto à eficácia da terapia mas o sofrimento emocional é forte e qualquer alívio é bem vindo.

- Eu ficava deitada, só falando... falando... Cansei de pagar por isso, dizia Valéria. Não acho justo alguém com sofrimento psíquico ficar 50 minutos fazendo associações livres e não ter alívio de suas dores emocionais! (mal sabe ela que ouço essa queixa com frequencia mas, não entendo porque não dizem isso aos profissionais ouvintes?)

- Para mim, terapia é mudança, respondi. Entendo como um processo de reestruturação do pensamento que visa a ter como efeito a alteração dos sentimentos e emoções no sentido de diminuir sofrimento e aumentar tranqüilidade. Deixemos de lado a imagem do psicólogo silente, ouvinte e interpretador da mente inconsciente.

Deve ser o psicólogo, aquele profissional que entende suas emoções, seus medos, dúvidas e angústias e lhe ensina a ser diferente, faz isso com ética, acolhimento, bom humor e criatividade.
Normalmente, na segunda ou terceira sessão, os efeitos do trabalho já são perceptíveis e o paciente, que antes estava receoso e pouco confiante, começa a se sentir à vontade no consultório. Com terapia breve, ou melhor, estratégica, em poucas semanas a queixa se dissolve e é comum que outras questões comecem a aparecer. Não é raro acontecer de pacientes rejeitarem a alta porque desejam elaborar outros aspectos.

Foi o caso de Valéria que, quando me procurou, queixava-se do diagnóstico de depressão que, no meu entendimento, é um efeito de outros problemas. Neste caso, auto estima ruim e poucos sentidos para a vida quando separou-se do marido. Aquela mulher que dedicava quase todo o seu tempo ao ex-companheiro não aprendeu a ter seus próprios entretenimentos, metas e alegrias na vida. Estimar a si mesma, é claro, era muito difícil nestas condições.

Quando o quadro mudou, a vida foi ganhando cor e a alegria nascendo no dia a dia, o foco de seu tratamento mudou:

- Agora quero conhecer minhas vocações de mulher e exercê-las! Disse-me meses atrás.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Meu marido não acredita em terapia!

Perdi a conta de quantas vezes ouvi esta frase! Em geral os maridos não acreditam em terapia (não que a psicoterapia necessite de crença mas, isso é outra história) porque suas esposa mudam quando estão em processo terapêutico. Ficam com melhor auto estima, mais confiantes em si e mais exigentes com seus cônjuges.
Viviane  sentia-se deprimida e sem grandes inspirações no casamento. Na verdade suas dificuldades envolviam o auto conceito que formara: seus gostos não tinham sentido , suas vontades desnecessárias e, seus esforços, em vão . Sempre me pergunto como as pessoas aprendem a pensar assim de si.

-Todas as minhas idéias são bobas, diz meu marido, não dessa forma mas é assim que sinto. Quando quero comprar um vestido, um sapato ou mesmo uma simples revista, ele diz que sou gastona e não valorizo o esforço que ele faz para trazer dinheiro para casa. Nem adianta eu argumentar que também trabalho porque o problema não é o dinheiro mas minhas vontades.
 
De fato muitos homens desrespeitam e desvalorizam os sentimentos e valores das companheiras e, de certa forma, eles as persuadem de que não sabem o que é bom ou certo para elas e para o casal. Agem como os machos alfa de Darwin, renegando e diminuindo a inteligência, o gosto e a felicidade de suas mulheres.

Na terapia elas desenvolvem auto estima, passam a acreditar em si mesmas e aprendem a exercer o direito de conduzir suas vidas da maneira como lhes convém. Os maridos desse tipo não acreditam na terapia. Não querem ser questionados em suas posturas.

Quando a terapeuta é uma mulher, ele a desqualifica, afinal, é outra mulher que, como a sua, também não entende nada sobre a vida. Se o profissional é um homem, a coisa é mais complicada! Haverá sempre uma espécie de competição; mesmo que o psicólogo não lhe pareça uma ameaça, o macho alfa disputa o controle de sua mulher com o terapeuta, vai procurar refutá-lo e, assim como sua colega psicóloga, será desqualificado. A situação fica muito pior quando a esposa começa a elogiar o terapeuta ou citá-lo a título de comparação e exemplo. Sentem-se ameaçados e viram feras!

- Ele diz que terapia não funciona e que estou perdendo tempo e dinheiro. Sou tentada submeter a esse pensamento mas não quero parar, me sinto bem, me sinto livre!
  Quando quero que esses maridos venham ao consultório, faço uso de uma estratégia: começo a expor minha opinião de como deve se comportar um bom marido. Aos poucos, elas levam o recado, exigem tal postura e, mais cedo ou mais tarde, os companheiros virão tirar satisfação. No cara a cara, aqui na minha poltrona, ficam passivos e dispostos a mudar o que for necessário para sua mulher melhorar!

Mas existem situações que os maridos apoiam e querem terapia para suas esposas. André, casado com Roberta, é um exemplo:

- Eu já não sabia mais o que fazer! Eu a via sofrer e não sabia como ajudar. Doía vê-la deprimida, sem vida, agora, está de volta, comentava Antonio
  Esse tipo de homem prima pelo bem estar da esposa e admite a terapia por saber que é um tratamento sério e profissional ou, porque mesmo sem "acreditar", quer o bem de sua amada e faz qualquer coisa por isso.

Há também os que se beneficiam com a terapia de suas mulheres: menos ciumentas, implicantes e cuidando bem de si, elas "dão um tempo", ao menos é assim que se comporta Márcia.

- Tenho sido menos ciumenta e meu marido já notou. Ele agora se sente mais livre e eu também. Não fico mais vasculhando ligações e mensagens. Acho que perdi tempo fazendo isso. Sinto vergonha!

Tentei resumir aqui o esboço de como alguns homens entendem a terapia que suas mulheres assumem, mas homens também fazem terapia. São pessoas normalmente mais esclarecidas ou com sofrimento psíquico intenso ou com desejo de desenvolvimento. Quase faço-me acreditar que os homens não se permitem admitir suas fraquezas e evitam os consultórios psicológicos.